Designado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como referência para Covid-19 nas Américas, o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) é um orgulho para todos nós. É a prova de que o Brasil tem, sim,tecnologia, ciência, pesquisa, recursos humanos e inovação de excelência mundial.
Há alguma dúvida do quanto o investimento em pesquisas tem uma ligação direta e intrínseca com o desenvolvimento do Brasil? Como encontrar a eficiência sem investimentos em pesquisas? Como produzir tecnologia de ponta, principalmente em biotecnologia, sem investimentos em pesquisa?
Essa é uma discussão extremamente oportuna, e mais do que isso, urgente. O desenvolvimento do Brasil nas mais diversas áreas do conhecimento humano depende do investimento em pesquisas porque investir na ciência é investir na qualidade de vida.
A importância do investimento em pesquisa
Buscar a inovação é fundamental para o progresso econômico e tecnológico de um país. E isso tem como consequência direta uma melhor qualidade de vida para a população como um todo.
Mas não é apenas essa a importância de investimentos maciços e bem gerenciados em pesquisa (embora seja o suficiente, não é verdade?). Quando pesquisamos, encontramos soluções paras as mais variadas áreas de atuação, e por meio delas deixamos de nos tornar dependentes das importações. Isso sem falar que nossas soluções são sempre muito mais baratas para os cofres públicos e o mercado.
O conhecimento é primordial para o desenvolvimento de um país. A ciência, a tecnologia, a pesquisa e a inovação revolucionam todos os setores da sociedade – social, econômico, político, militar, industrial, cultural e intelectual. E isso não é obra do acaso: é preciso muito trabalho e maciços investimentos em pesquisa.
O Brasil investe em pesquisa como deveria?
De acordo com um levantamento realizado pela Unesco, em 2017, o Brasil tinha 700 pesquisadores por cada milhão de habitantes. Isso significa que contabilizávamos em torno de 150 mil especialistas dedicados à pesquisa. Na china, essa relação era de 1.100 pesquisadores/milhão de habitantes, na Rússia 3.100/milhão de habitantes, nos Estados Unidos 3.900/milhão de habitantes, em Cingapura e Coreia do Sul 6.400/milhão de habitantes e em Israel 8.300/milhão de habitantes.Esses números dizem muito!
Nos Estados Unidos essa grande comunidade de cientistas trabalhando em pesquisa e desenvolvimento está predominantemente na iniciativa privada (81%), ficando 4% no governo e 15% em universidades. Aqui no Brasil, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) 65% dos nossos cientistas atuam em universidades públicas, 27% em empresas privadas e 8% em órgãos governamentais.
Nossa pesquisa e desenvolvimento estão praticamente limitados às verbas das universidades, e todos nós sabemos como andam nossas instituições públicas de ensino superior. Em 2020, o Ministério da Ciência e Tecnologia teve um pequeno incremento de 6,2% em seu orçamento, o que é uma boa notícia, mas os recursos investidos na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) caíram nada menos do que 30% e a taxa de fomento a pesquisas do Conselho nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sofreu cortes de 80%.
Segundo o CNPq, em 219 perdemos 17.892 bolsas de estudos por conta do chamado contingenciamento de recursos. Isso afeta diretamente a pesquisa brasileira.
Inovação: é preciso investir mais em pesquisa e alcançar o desenvolvimento do Brasil
Inovação é a palavra da moda, é o conceito do momento em busca de mais competitividade, produtividade, conhecimento e melhores práticas. Uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, realizada em 2018, mostra que o Brasil ocupa o 9º lugar no ranking dos países que investem em pesquisa e desenvolvimento, com gastos em torno de US$ 42,1 bilhões ao ano. Isso representa 2,3% do investimento global, sendo que os Estados Unidos e a China, juntos, representam, sozinhos, 62% desse montante mundial.
A 9ª colocação parece uma boa marca, mas se relacionarmos os gastos com o PIB (Produto Interno do País), o Brasil simplesmente desaparece da lista dos 15 países que mais investem em pesquisa e desenvolvimento. Seguindo essa relação, Israel, que não aparece entre os 15 maiores investidores, alcança a vice-liderança quando se coloca o volume de gastos diante do PIB do país.
Investir em pesquisa e desenvolvimento é uma questão de política pública. É preciso querer e proporcionar condições para isso. É preciso provisionar verba, instrumentalizar as universidades, apostar em educação e estimular os recursos humanos disponíveis, que, aliás, não são poucos.