Dra. Regina Cioffi

Tragédia anunciada: a gravidade dos acidentes com barragens da mineração que poderiam ser evitados

É impossível se esquecer do que houve em Mariana, em 2015, e quatro anos depois também em Brumadinho, em 2019. Vidas perdidas, famílias afetadas, um impacto absurdo na natureza. Talvez o pior seja que ambas as tragédias eram anunciadas – e com a possibilidade de serem evitadas.

Um livro escrito com base na investigação da Polícia Federal sobre o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão em Brumadinho, intitulado “Brumadinho: a engenharia de um crime”, pesquisou os documentos da Vale e encontrou arquivos que demonstravam que pelo menos dez barragens estavam acima do limite aceitável, enquanto para o público, a imagem passada era de que tudo corria bem e em segurança.

Mas, se sabiam que havia irregularidades, qual a dificuldade para uma das maiores mineradoras do planeta em resolver esse problema? Falta de dinheiro não foi, mas muito provavelmente a preocupação com os lucros.

Nesse mesmo livro, fica claro que paralisar as atividades da mina para retirar o centro administrativo, fazer uma obra maior na barragem demandaria paralisar a operação, e isso significa impacto direto nos lucros. A preocupação com os lucros custou caro. Centenas de pessoas pagaram com suas vidas por algo que poderia ter sido evitado.

Sendo possível prevenir tragédias como essa, o que é preciso para evitar que novos episódios como esse devastem famílias e o ambiente? Primeiro, passar a preocupação com a vida à frente dos lucros. Depois, os especialistas contam com a técnica.

O primeiro passo é investir em um monitoramento sério para que medidas efetivas sejam tomadas quando os riscos forem identificados. Deve-se criar uma política de gestão e monitoramento de barragens nova e eficaz , que torne públicos, por exemplo, os estudos de ruptura e evite que documentos com laudos importantes sejam mantidos em sigilo, como houve com a Vale.

Especialistas também apontam que outra providência importante é instituir a exigência de um número proporcional de engenheiros e geólogos geotécnicos nos quadros das empresas, da mesma forma que são exigidos na segurança e medicina do trabalho.

E se com tudo isso você se pergunta por que é tão importante tratar desses assuntos, eu digo que as barragens estão longe de ser um problema distante de nós. Por isso digo: estejamos atentos e vigilantes para cobrar o que é preciso para evitar novas tragédias evitáveis.